sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

IV. RECOMENDAÇÕES E SUGESTÕES.

1. Textos eucológicos.

A Quaresma é o tempo do ano que possui maior riqueza de textos eucológicos (conjunto de orações de um livro litúrgico ou de uma celebração). A missa não só tem própria a primeira oração de cada dia, mas também inclusive a oração sobre as ofertas e a oração depois da comunhão. Mas, além destes textos obrigatórios, sublinharíamos a importância de outros formulários que podem usar-se livremente:

A. O ato penitencial da missa.

Seria recomendável destacar, durante este tempo, esta parte da celebração. Poderiam, por exemplo, variar-se cada dia da semana as invocações (a nova edição do Missal Romano oferece para isso uma variedade de possibilidades), e cantar diariamente –não limitar-se a rezar- o “Senhor tenha piedade”. É uma maneira singela de sublinhar o caráter penitencial destes dias.

B. Oração dos fiéis.

Conviria empregar alguns formulários nos quais se atendesse o significado próprio deste tempo, e nos que se incluíram algumas solicite pelos pecadores, a teor do que se diz a respeito no Concílio Vaticano II (ver Sacrosanctum Concilium, N. 109). Do mesmo modo, e seguindo o pedido do Papa, podem-se incluir petições pela paz do mundo, pela família, pela defesa da vida, e pelas vocações.

C. Prefácios.

No ano A, todos os domingos têm um prefácio próprio que glosa o evangelho do dia. Nos anos B e C, têm prefácio próprio os domingos I e II e no domingo de Ramos. Os restantes domingos, usa-se um dos prefácios comuns de Quaresma. O mais apropriado para no domingo IV é o prefácio I, por suas alusões à Páscoa que se aproxima. Em troca o prefácio IV por suas alusões ao jejum, não é apropriado para no domingo.

Para as feiras há cinco prefácios. Todos estes prefácios terá que distribui-los de maneira que nenhum deles fique esquecido. Por seu caráter penitencial, o IV está especialmente indicado para as sextas-feiras.

C. 1 O espírito da Quaresma em seus Prefácios.

A última edição de Missal Romano (1988), traz cinco Prefácios de Quaresma, destinados às quatro primeiras semanas deste tempo.

A semana V e VI, como se recorda, dispõem de dois Prefácios da Paixão do Senhor. Os cinco prefácios quaresmais são estes:

Prefácio I: Significação espiritual da Quaresma.

A usar-se sobre tudo no domingo, quando não assinalou prefácio próprio.

Este prefácio apresenta quatro linhas de força:

Em primeiro lugar define a atitude do cristão na quaresma: “desejar ano após ano a solenidade da páscoa”. Este prefácio apresenta a meta positiva do processo quaresmal e da vida cristã: participar de plenitude do mistério pascal do Senhor Jesus. O que desejamos e celebramos é o mistério de Cristo renovado em nossa vida: a Igreja, que se incorpora à Páscoa de seu Senhor.

Em segundo lugar a tarefa quaresmal se descreve com três pinceladas: nos libertar do pecado e nos purificar interiormente; nos dedicar com maior empenho ao louvor divino (vida de oração); e finalmente viver mais intensamente o amor fraterno (a caridade).

Em terceiro lugar sublinha que a meta última a que tende o processo quaresmal é “chegar a ser com plenitude filhos de Deus”, em Cristo, o Filho por excelência, em quem fomos enxertados pelo Batismo.

Finalmente, em quarto lugar, o prefácio sublinha que tudo é iniciativa divina, a que a pessoa humana deve corresponder segundo o máximo de suas possibilidades ou capacidades: “por Ele concede a seus filhos desejar, ano após ano...” A Palavra de Deus e os Sacramentos nos ajudam em nosso caminho para a santidade.

Prefácio II: A penitência espiritual.

A ser usado sobre tudo no domingo, quando não assinalou um prefácio próprio.

Este prefácio sublinha o sentido da penitência quaresmal. A Quaresma é apresentada como um tempo de graça (tempo de misericórdia), que Deus nos oferece para conseguir a purificação interior do espírito. nos ver livres do pecado, de nossos vícios e escravidões, reordenando adequadamente nossas potências e paixões, aprendendo a usar os bens materiais como médios e não como fins, compreendendo sua natureza perecível e portanto não nos apegando a eles desordenadamente. Este é o sentido da penitência quaresmal: mudança de mentalidade (metanóia), despojar do homem velho para revestir do homem novo.

Prefácio III: Os frutos das privações voluntárias.

A usar-se durante as feiras e os dias de abstinência e jejum.

Este prefácio concreta ainda mais esta “penitência” e assinala o por que da abstinência e o jejum. O jejum tem uma dupla finalidade: por uma parte mitigar nossos apetites desordenados, e por outra parte aliviar as necessidades do próximo com o fruto de nossa renúncia. Com isso damos graças a Deus e nos fazemos discípulos e instrumentos de seu amor.

Prefácio IV: Os frutos do jejum.

A usar-se durante as feiras e os dias de abstinência e jejum.

É o mais antigo dos prefácios quaresmais. limita-se a destacar o jejum como elemento central da Quaresma, nos apresentando o aspecto “ascético” deste tempo litúrgico.

Prefácio V: O caminho do êxodo quaresmal.

A usar-se durante as feiras deste tempo.

Este prefácio foi incorporado na última edição do Missal Romano (1988). Tem um título dinâmico e sugestivo. Apresenta a Deus como Pai rico em misericórdia, quem toma a iniciativa de nossa salvação porque “pelo grande amor com que nos amou, estando mortos por causa de nossos delitos, vivificou-nos junto com Cristo –por graça fostes salvos- e com Ele nos ressuscitou e nos fez sentar nos céus em Cristo Jesus” (Ef 2,4-6). O prefácio apresenta o caminho da Igreja na Quaresma como um “novo êxodo”, onde a Igreja está chamada a fazer penitência e renovar sua vocação de povo da aliança nova e eterna, chamado a bendizer o nome de Deus, a escutar sua Palavra e a experimentar com gozo suas maravilhas.

Além destes cinco prefácios numerados, há outros vários, virtualmente para cada domingo, sobre tudo no Ciclo A.

Primeiro no domingo, centra-se nas tentações de Jesus no deserto.

Segundo no domingo, sobre a Transfiguração do Senhor.

Os terceiro, quarto e quinto domingos, têm prefácios claramente batismais, respondendo às leituras evangélicas, que apresentam os grandes temas quaresmais da água (a samaritana), a luz (o cego de nascimento) e a vida (Lázaro).

Como já indicamos há outros dois prefácios de Paixão, para os últimos dias da Quaresma e Semana Santa.

São onze prefácios em total. Podemos tirar proveito deles para nossa pregação e nossa catequese. Neles estão as idéias-força do mistério de salvação que sucede em nosso caminho quaresmal-pascal.

d. Preces Eucarísticas.

Podem ser usadas duas preces eucarísticas sobre a reconciliação, sobre tudo quarta-feira e sexta-feira, que são os dias mais penitenciais da Quaresma.

E. Introdução ao Pai Nosso.

Durante o tempo de Quaresma, pode ser sugestivo destacar na introdução ao Pai Nosso o pedido: “nos perdoe nossas ofensas”, ou “Livrai-nos do mal”.

F. Bênção Solene e Orações sobre o povo.

A nova edição do Missal Romano (1988), incorporou uma bênção solene para este tempo, que na edição anterior do Missal não existia. Por isso será oportuno usá-la sobre tudo Na Quarta-feira de Cinza e os domingos de Quaresma.

Também se podem usar para os domingos as “orações sobre o povo” que traz o Missal Romano ao final do elenco das Bênçãos Solenes, e que são as antigas bênçãos romanas. Para os domingos as mais aconselháveis são as dos números 4, 11, 18, 20 e 21. Não deve-se esquecer no domingo VI de Quaresma ou de Paixão tem bênção própria.

Se para as feiras quer empregar alguma das “orações sobre o povo”, as mais apropriadas são as dos números, 6, 10, 12, 15, 17 e 24. A 17 são muito apropriada para as sextas-feira.

2. Programa de cantos.

a) Canto de entrada da missa.

Este canto tem que dar a cor quaresmal ao conjunto da celebração eucarística. Deve ser penitencial ou, nos dias sexta-feira e nas duas últimas semanas, alusivos à cruz do Senhor. portanto terá que pôr muito cuidado em sua escolha.

b) Salmo responsorial.

Deve-se respeitar sempre na liturgia da Missa e não ser alegremente substituído por qualquer canto. Não nos cansaremos de dizer que o Salmo forma parte integral da Liturgia da Palavra; que é Palavra de Deus, e que a palavra divina nunca pode ser substituída pela palavra humana.

Na medida do possível se deve cantar. Mas se a assembléia não pode cantar a antífona própria do salmo da missa, podem-se procurar algumas antífonas aplicáveis a todas as missas, sempre e quanto estas antífonas respeitem o sentido do salmo.

Assim por exemplo se podem selecionar antífonas penitenciais, quando o salmo for penitencial (por exemplo, “Perdão, Senhor, Perdão”; ou “Sim me levantarei”); ou aclamações que aludam à paixão do Senhor, quando o salmo sugira a oração de Cristo na cruz (por exemplo “me Proteja meu Deus”).

Em caso que isto tampouco se possa fazer é preferível ler o salmo, e a assembléia responder com a antífona indicada, a cantar uma resposta que não tenha o mesmo sentido do salmo.

c) Aclamação antes do evangelho.

Podem fazer-se estas indicações:

- É melhor reservá-la unicamente para os dias mais solenes (domingos e três primeiras feiras de Semana Santa), e omiti-la nas feiras.

- Nunca a deve cantar um solista (não é um segundo salmo responsorial), mas sim a assembléia ou um coro. O melhor é que seja um canto vibrante e aclamação a Cristo que falará no santo evangelho.

d) Cantos de comunhão.

Deverão ser evitados os que tiverem um matiz penitencial, pois a comunhão é sempre um momento festivo. No momento de comungar não se trata de criar um ambiente quaresmal, mas sim acompanhar festivamente a procissão eucarística. Por isso é bom para este momento da Santa Missa escolher cantos alusivos ao convite eucarístico.

e) Preparação dos cantos da Vigília e do Tempo pascal.

Terá que dedicar durante a Quaresma um tempo cada semana para ensaiar cantos pascais. Isto não se situa somente na linha de uma necessidade prática com vistas às festas e ao tempo litúrgico que se aproximam, mas sim além disso contribuirá a viver a Quaresma como um caminho para a páscoa, criando o desejo de desejar sua celebração.

Nesta linha, tem tanta importância os ensaios em si como a explicação de alguns textos cantados. Nestes ensaios quaresmais deveria procurar-se que o repertório pascal progredisse de ano em ano, e, assim, os cantos pascais superassem os dos outros ciclos, como a Páscoa supera em solenidade as outras festas.

Como cantos mais importantes poderiam ser:

Um “Aleluia” vibrante (e possivelmente novo) que, bem ensaiado desde o começo da Quaresma, poderia-o saber bem toda a assembléia.

Um “Glória” solene e extraordinário, que poderia estrear-se na Noite Santa de Páscoa e converter-se no “Glória” próprio da cinquentena, ou pelo menos da Oitava de Páscoa. É bom recordar que o “Glória” que se escolha deve recolher em sua totalidade o texto litúrgico do Missal Romano.

Aquele que cantará o “Pregão Pascal” na Vigília Pascal, deverá praticá-lo com a suficiente antecipação e nunca deixar seu ensaio para o último momento.

3. Preparação do círio pascal.

O círio pascal é talvez o sinal mais próprio e expressivo das celebrações pascais. Por isso, não é suficiente comprá-lo (seria imperdoável usar o círio de outros anos, pois a Páscoa é a renovação de tudo), mas sim é necessário ambientar sua futura presença, e, obter que os fiéis o desejem, pois o representa ao Senhor glorificado.

Por isso sugerimos que se organize o IV Domingo de Quaresma uma coleta entre os fiéis para adquiri-lo. O IV Domingo de Quaresma, é no domingo da alegria no caminho penitencial para a Páscoa, e nos convida a pensar na Páscoa como uma celebração já muito próxima.

Com isso resultaria mais verdadeira a expressão que se cantará no pregão pascal: “Em esta noite de graça, aceita, Pai santo, este sacrifício vespertino de louvor que a Santa Igreja te oferece por meio de seus ministros na solene oferenda deste círio”. É evidente que esta expressão perde todo seu sentido se se usar um círio que já foi, por dizê-lo assim, “devotado” anteriormente.

4. Oração, mortificação e caridade.

São as três grandes práticas quaresmais ou meios da penitência cristã (ver MT 6,1-6.16-18).

Acima de tudo, está avida de oração, condição indispensável para o encontro com Deus. Na oração, o cristão ingressa no diálogo íntimo com o Senhor, deixa que a graça entre em seu coração e, a semelhança de Santa Maria, abre-se à oração do Espírito cooperando a ela com sua resposta livre e generosa (ver Lc 1,38). portanto devemos neste tempo animar a nossos fiéis a uma vida de oração mais intensa.

Para isso poderia ser aconselhável introduzir a reza de Alaúdes ou Vésperas, na forma que resulte mais adequada: os domingos ou nos dias de trabalho, como uma celebração independente ou unidos à Missa; convidar a nossos fiéis a formar algum grupo de oração que se reúna estavelmente sob nosso guia, uma vez por semana durante meia hora. Desta maneira além de rezar podemos lhes ensinar a fazer oração; incentivar a oração pela conversão dos pecadores, oração própria deste tempo; etc. Além disso, não se pode esquecer que a Quaresma é tempo propício para ler e meditar diariamente a Palavra de Deus.

Por isso seria muito bom oferecer a nossos fiéis a relação das leituras bíblicas da liturgia da Igreja de cada dia com a confiança de que sua meditação seja de grande ajuda para a conversão pessoal que nos exige este tempo litúrgico.

A mortificação e a renúncia, nas circunstâncias ordinárias de nossa vida, também constituem um meio concreto para viver o espírito da Quaresma. Não se trata tanto de criar ocasiões extraordinárias, mas sim mas bem oferecer aquelas circunstâncias cotidianas que nos são molestas; de aceitar com humildade, gozo e alegria, os distintos contratempos que nos apresenta o ritmo da vida diária, fazendo ocasião deles para nos unir à cruz do Senhor. Da mesma maneira, o renunciar a certas coisas legítimas ajuda a viver o desapego e o desprendimento. Inclusive o fruto dessas renúncias e desprendimentos o podemos traduzir em alguma esmola para os pobres. Dentro desta praxe quaresmal estão o jejum e a abstinência, dos que nos ocuparemos mais adiante em um parágrafo especial.

A caridade. De entre as distintas práticas quaresmais que nos propõe a Igreja, a vivência da caridade ocupa um lugar especial. Assim nos lembra São Leão Magno: “estes dias quaresmais nos convidam de maneira premente ao exercício da caridade; se desejamos chegar à Páscoa santificados em nosso ser, devemos pôr um interesse especialíssimo na aquisição desta virtude, que contém em si às demais e cobre multidão de pecados”. Esta vivência da caridade devemos viver a de maneira especial com aquele a quem temos mais perto, no ambiente concreto no que nos movemos. Desta maneira, vamos construindo no outro “o bem mais precioso e efetivo, que é o da coerência com a própria vocação cristã” (João Paulo II).

“Há maior felicidade em dar que em receber” (At 20,35). Segundo João Paulo II, o chamado a dar “não se trata de um simples chamado moral, nem de um mandato que chega ao homem de fora” mas sim “está radicado no mais fundo do coração humano: toda pessoa sente o desejo de ficar em contato com os outros, e se realiza plenamente quando se dá livremente a outros”. “Como não ver na Quaresma a ocasião propícia para fazer opções decididas de altruísmo e generosidade? Como médios para combater o desmedido apego ao dinheiro, este tempo propõe a prática eficaz do jejum e a esmola. Privar-se não só do supérfluo, mas também também de algo mais, para distribui-lo a quem vive em necessidade, contribui à negação de si mesmo, sem a qual não há autêntica praxe de vida cristã. Nutrindo-se com uma oração incessante, o batizado demonstra, além disso, a prioridade efetiva que Deus tem na própria vida”.

Por isso será oportuno discernir, conforme à realidade de nossas comunidades, que campanhas a favor dos pobres podem organizar durante a Quaresma, e como devemos animar a nossos fiéis à caridade pessoal.

A oração, a mortificação e a caridade, ajudam-nos a viver a conversão pascal: do fechamento do egoísmo (pecado), estas três práticas da quaresma nos ajuda a viver a dinâmica da abertura a Deus, a nós mesmos e a outros.

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